sábado, 3 de dezembro de 2011

69 - Ode á sombra dos mortos


Não mais as tardes com o mar ao fundo
não mais a chuva a debulhar o frio
não mais o cimo dos mirantes míopes
não mais o rio a se enxugar em nós.

Não mais o olhar crepuscular dos bois
a ruminar o pasto e o posto sol
não mais novembro e a paz dos cemitérios:
chamas de fé revigorando os vivos.

Não mais o amor em rubras pradarias
com suas crinas de veludo e mel;
o leito azul de orquídeas e ternuras;
não mais incêndios na língua do filho.

Não mais os mortos e sóis e serpentes
embalsamados na pele do rio
não mais presságios de brancas corujas
e a fé em cruz, superstições de pai.

Não mais o fel dos féretros infantes.
Oh, inefáveis mistérios de Deus!
Não mais a dor e o medo e as dissonantes
que se evolam da harpa do estar-vivo.

Os mortos sangram a nossa memória.
Em suas mãos nada mais há contido
deste volátil dínamo da vida
mas todos vêm pra ceia de novembro.


Um comentário:

Giane disse...

E dos mortos quase tudo jaz.
A não ser as lembranças...

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